Entenda os impactos das guerras para a inovação e economia

Por: Redação do canal Start da Gramado Summit

Foto: Unsplash

No início do mês de outubro, Israel, conhecido como o país da inovação e das startups, sofreu um ataque surpresa do grupo terrorista Hamas, um movimento islamista palestino, de orientação sunita. O grupo está ativo em Gaza, cidade palestina que faz fronteira com o Egito e Israel, e enfrenta ao longo de décadas diversos conflitos que envolvem política e religião.

Muitos fatores podem estagnar a inovação para uma nação, como a falta de recursos, uma má gestão pública e privada, e até mesmo conflitos políticos e sociais, que podem impactar direta e indiretamente o avanço de um país. O economista judeu Max Cohen, que possui dupla nacionalidade e viveu em Israel com a família por alguns anos, compartilha que a guerra sempre traz dois grandes blocos de resultados. Em primeiro lugar, a parte sombria, com a morte, feridos, cidades arrasadas e uma grande quantidade de recursos financeiros que acabam virando pó.

Por outro lado, ele compartilha o lado positivo, quando os recursos e investimentos acabam sendo direcionados para pesquisas e inovações voltadas para a área de defesa e material bélico. Um grande exemplo disso é a invenção da bomba atômica e da máquina de descriptografia, criada por Alan Turing na Segunda Guerra Mundial, que viria a ser posteriormente origem para os primeiros projetos de computadores. Segundo Max, apesar das motivações serem complexas, a guerra costuma trazer transformações. Olhando o sistema de inovação, Max aponta que podemos ter uma movimentação em parte dos recursos da inovação, que vão parar de ser destinados ao ambiente civil e destinados para a guerra.

Falando em inovação e pegando o caso da guerra entre Rússia e Ucrânia, o economista afirma que é possível observar uma criação inovadora por parte do exército ucraniano, que são os drones de papelão, utilizados em ataques às cidades russas. Segundo ele, essa destinação de recursos, apesar de ser direcionada quase que exclusivamente para os sistemas de defesa, acabam refletindo na população, sendo o caminho para a criação de soluções que podem contribuir com o futuro das pessoas da nação atingida e outras nações envolvidas, assim como ocorreu com a criação dos primeiros computadores.

Contudo, Max acredita que o impacto da guerra é para o mundo inteiro, de uma forma direta e indireta. De uma forma direta entre os países vizinhos dos países atingidos, que acabam tendo prejuízos significativos. Segundo um conteúdo publicado pela BBC publicado em 2022, agricultores ucranianos tinham 20 milhões de toneladas de grãos que não conseguiam fazer chegar aos mercados internacionais, além da produção e exportação de fertilizantes, o que reflete nas dificuldades em adquirir recursos e manter sua movimentação econômica.

Já a Rússia restringiu temporariamente as exportações de gasolina e diesel no último dia 21 de setembro deste ano, a fim de estabilizar o mercado interno. No caso de Israel, o conflito respinga no Brasil e em países como Argentina e Uruguai, que são impactados pela falta de exportação de carne para os países do Oriente Médio. Uma reportagem feita pela Record TV mostra que a guerra compromete a exportação de frango brasileiro para Israel, visto que o Brasil é o único país autorizado a exportar carne de frango para Israel. Ele ressalta ainda que, de certa forma, a instabilidade causada em Israel pode aumentar ainda mais outros ecossistemas como pólos de inovação, apesar dos impactos negativos à nação israelense.

“Eu vejo que o capital internacional, o dinheiro que está disponível em bancos, em empresas, em fundos de risco, eles serão utilizados onde há demanda, onde há projetos, e no momento que as equipes de Israel estão em guerra, com uma mão de obra reduzida, visto que boa parte dos funcionários das grandes startups foram convocados para o combate, os projetos que estão em Israel serão paralisados. Isso acaba comprometendo os projetos de inovação que estão no país. Assim, o Vale do Silício, na Califórnia, e os ecossistemas de inovação de Nice, no sul da França, de Londres, e até mesmo os ecossistemas brasileiros, podem se beneficiar desses recursos”, comenta Max.

Silvio Bitencourt da Silva, professor, gestor executivo do Tecnosinos e de Inovação e Tecnologia da Unisinos, compartilha que a inovação depende de um ambiente de negócios favorável para se desenvolver. Neste caso, a incerteza e a instabilidade afetam a confiança, especialmente de investidores. Assim como o economista Max, Silvio ressalta que há uma redução de investimentos e uma interrupção de diversos projetos de empresas globais conectadas a este ecossistema, afetando o próprio setor de inovação. Apesar disso, ele aponta que nenhum destes impactos supera a perda e a interrupção das pessoas neste contexto.

“Além dos impactos econômicos para Israel e região, há diversos impactos de cunho social. Alguns irreparáveis. Mas, de fato, imediatamente se percebe o aumento dos preços de commodities e há o aumento de diversos insumos importados e do próprio combustível. Há, assim, elevação de juros e inflação. Acredito que, se o conflito se estender, haverá o deslocamento de projetos em andamento e investimentos para outros ecossistemas. Entretanto, como são ecossistemas muitas vezes interdependentes, se percebe a desaceleração e a interrupção de diversos projetos de inovação. As pessoas são profundamente afetadas e há um impacto significativo na segurança psicológica de todos que, mesmo exercitando resiliência, não é simples recuperar”, acrescenta Silvio.

O especialista aponta ainda que a inovação depende de pessoas talentosas. Neste caso, a guerra interrompe vidas e isso deve preceder qualquer ideia em torno de tomá-las apenas como recurso para inovação. O olhar deve ser sobre as pessoas. Em síntese, ele explica que a economia global é afetada em relação aos riscos geopolíticos para os mercados financeiros, especialmente para investidores.

“A continuidade da guerra poderá contribuir para uma inflação persistente. Além das vidas humanas afetadas no contexto da guerra, afetam também o poder de compra das pessoas em âmbito global”, conclui.


31 de Outubro de 2023
Tecnosinos