Siga a continuação da agenda do gestor executivo do Tecnosinos no SXSW 2025

Anteriormente, compartilhamos alguns relatos de Silvio Bitencourt, gestor executivo do Tecnosinos, de painéis visitados por ele durante sua missão no SXSW, em Austin, Texas. Com o apoio da Rede RS Startup por meio da Fapergs, segue em solo americano reportando suas interações e vivências, conforme você pode conferir a seguir.

SXSW 2025 #10 – Tive a oportunidade de assistir à palestra “Além das Previsões: Dominando a Arte de Moldar o Futuro”, conduzida pelo Dr. Frederik G. Pferdt, primeiro Chief Innovation Evangelist do Google e autor de “What’s Next Is Now: How to Live Future Ready”. No livro, Frederik destaca como podemos nos preparar para o futuro adotando uma mentalidade ativa e dinâmica, que nos capacita a criar as oportunidades de amanhã no presente. A sessão foi reprisada devido ao grande interesse do público, o que me permitiu participar após não conseguir conciliar com outras palestras e painéis anteriormente. Em um mundo onde 98% das previsões falham, a grande lição da sessão foi clara: o futuro não deve ser apenas esperado, mas moldado. Frederik nos desafiou a transformar ansiedade em ação, incerteza em possibilidade e a construir um futuro que amamos, em vez de apenas tentar prever o que está por vir. Foi uma experiência instigante, pois nos fez repensar o amanhã e agir hoje para criar o futuro que desejamos.

SXSW 2025 #11 – Participei do painel com Brené Brown, Kenya Barris e Malcolm Gladwell, e foi uma experiência reveladora. A conversa explorou temas como vulnerabilidade, coragem e criatividade, conectando ciência, cultura e narrativa de forma envolvente em um bate-papo entre amigos. Um dos momentos mais marcantes foi a fala de Renê, que afirmou que as pessoas estão cansadas do “humano” e que, em tempos de inteligência artificial, metáforas, paradoxos e poesia são mais necessários do que nunca. Essa reflexão trouxe uma nova perspectiva sobre como nos expressamos e nos conectamos em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia. Brené Brown destacou a importância da empatia e da coragem na liderança, enquanto Kenya Barris abordou a necessidade de contar histórias que realmente importam. Malcolm Gladwell, por sua vez, trouxe provocações instigantes para aprofundar aspectos sobre comportamento humano. Foi inspirador acompanhar essa troca de ideias e perceber como, mesmo em meio às transformações tecnológicas, a criatividade e a profundidade humana continuam sendo essenciais.

SXSW 2025 #12 – Mesmo com muitas sobreposições consegui alcançar a palestra de Scott Galloway que conduziu uma análise abrangente das principais tendências econômicas, tecnológicas e sociais que moldarão o próximo ano. Clique aqui para acessar suas previsões. Suas observações destacaram a necessidade de adaptação por parte das empresas diante de um cenário de transformação acelerada. Enfatizou o impacto do aumento do consumo entre os jovens americanos, impulsionando a valorização de ativos. No entanto, alertou para a desconexão entre esse crescimento e a geração de receita real das empresas, fenômeno já observado durante a bolha das empresas de tecnologia nos anos 1990. Além disso, apontou o surgimento de novos modelos de negócio, como o da Shein, que, baseados exclusivamente em tecnologia e dados, desafiam empresas tradicionais a repensarem suas estratégias. A inteligência artificial e a automação foram temas centrais da discussão. Embora haja preocupações com a substituição de empregos, Galloway argumentou que essas tecnologias tendem a redirecionar talentos em vez de eliminá-los. Outro ponto relevante foi a crescente influência das grandes empresas de tecnologia, que assumem funções antes desempenhadas pelo Estado, afetando políticas públicas e a organização social.

Mas, em minha percepção, um dos temas mais impactantes foi a solidão, que Galloway classificou como a maior ameaça à sociedade americana. Ele destacou seu impacto na saúde mental e na economia, ressaltando que homens, em particular, tendem a se refugiar no mundo digital. No ambiente corporativo, esse fenômeno reforça a importância de políticas organizacionais que promovam interações sociais e bem-estar. Por fim, a palestra evidenciou que 2025 será marcado por desafios e oportunidades. O crescimento sustentável, a adaptação à automação e a promoção de um ambiente de trabalho humanizado serão fatores determinantes para a competitividade organizacional no cenário emergente.

SXSW 2025 #13 – Depois de muita fila, consegui assistir a uma das sessões mais curiosas do evento: uma conversa entre Ben Stiller e Eddy Cue sobre Severance e o impacto da inovação e criatividade na cultura. Stiller, que é produtor executivo e diretor da série, relembrou o início da parceria com a Apple TV+ e contou como, na época, nem sabia direito o que era a plataforma, já que ela ainda estava no começo. Apesar da incerteza inicial, ele destacou que essa relação criativa se tornou algo incrível ao longo dos anos. Eddy Cue, vice-presidente sênior de Serviços da Apple, também falou sobre a importância da série para a empresa e revelou que Severance se tornou a produção mais assistida da história do Apple TV+. Ele comentou o quanto as pessoas estão fascinadas pela série, que se aproxima do final da sua segunda temporada.

Uma parte divertida da conversa foi quando Stiller brincou sobre as comparações entre a Apple e a Lumon Industries, a misteriosa corporação fictícia da série. Ele disse que sempre achou que Severance era perfeita para estar na Apple, porque há algo na estética e nas ideias da série que se conectam com a empresa. Também fez piada sobre o orçamento da produção e perguntou diretamente a Cue se a Apple estava indo bem financeiramente, ao que Cue respondeu com bom humor: “Se você continuar fazendo um trabalho tão bom quanto está fazendo, acho que vamos ficar bem.” Ao longo da sessão, foram exibidos trechos inéditos da segunda temporada, e Stiller comentou, de forma enigmática, que “coisas vão acontecer” e que espera que o público embarque na reta final da história. A série, estrelada por Adam Scott, explora o intrigante conceito de separação entre a vida pessoal e profissional, com personagens que possuem versões “innies” e “outies”, sem memória entre suas duas realidades. Um dos temas centrais da nova temporada tem sido a tentativa de reintegração dessas duas versões, criando ainda mais tensão na trama. Foi uma experiência muito interessante assistir a essa conversa ao vivo, além de acompanhar as novidades sobre uma das séries mais fascinantes dos últimos anos.  Ainda não assisti Severance, mas, depois dessa conversa, com certeza entrou na minha lista. Veja aqui o trailer.

SXSW 2025 #14 – No painel “Colossal: Technology Company Turning Science Fiction To Science Fact”, assisti a uma apresentação sobre as inovações científicas lideradas pela Colossal Biosciences, uma empresa na vanguarda das tecnologias de edição genética, clonagem e úteros artificiais. Os palestrantes Ben Lamm, cofundador e CEO da Colossal, e Joe Manganiello, ator e produtor, compartilharam como essas tecnologias estão não apenas permitindo a restauração de espécies extintas, mas também criando soluções inovadoras para a preservação de espécies ameaçadas. Ben Lamm, com uma trajetória sólida em empreendedorismo tecnológico, explicou como a empresa está usando ferramentas como o CRISPR para reverter a extinção de espécies como o mamute lanoso, além de aprimorar as condições de vida de outras espécies.

Um dos pontos mais curiosos foi a criação dos “ratos lanosos”, um roedor modificado geneticamente para ter uma pelagem dourada, semelhante à de mamutes extintos. Além de sua aparência peculiar, esses roedores possuem um metabolismo acelerado, capaz de consumir gordura rapidamente – uma característica que lhes permite resistir a condições extremas de frio, como os mamutes na era do gelo. Esse avanço é um exemplo da aplicação prática da biotecnologia para estudar e até mesmo reviver traços genéticos de animais extintos. O painel não apenas destacou os progressos tecnológicos da Colossal, mas também trouxe uma reflexão sobre o impacto dessas inovações no futuro da biodiversidade e conservação. A discussão deixou claro que, embora ainda nos encontremos no início de uma nova era científica, a fronteira entre ficção científica e ciência real está cada vez mais tênue.

SXSW 2025 #15 – Então, participei do painel intitulado Life With Machines: The Best and Worst of A.I., uma análise crítica sobre o impacto da inteligência artificial nas mais diversas esferas da sociedade, incluindo democracia, mercado de trabalho, cultura e vida cotidiana. O painel foi conduzido por Baratunde Thurston, renomado storyteller e apresentador, que mediou discussões relevantes sobre as complexidades do relacionamento humano com as tecnologias emergentes. Contando com a presença de Rahaf Harfoush, antropóloga digital e autora best-seller, e Matt Klinman, comediante e roteirista de destaque, o painel abordou as múltiplas perspectivas que emergem do uso de A.I., indo de Hollywood à União Europeia, com um foco especial nas questões políticas, éticas e culturais.

O painel se destacou pela abordagem irreverente e ao mesmo tempo fundamentada nas nuances da A.I., proporcionando uma reflexão equilibrada entre os excessos de entusiasmo e as preocupações sobre os riscos tecnológicos. Um momento particularmente notável foi a presença de Blair, a coprodutora de IA do podcast Life with Machines, que participou da discussão, trazendo uma perspectiva inusitada e enriquecedora sobre o papel crescente de inteligências artificiais no processo de criação e produção de conteúdo. A sua presença sublinhou o potencial da IA não apenas como ferramenta, mas como coparticipante ativa em processos criativos, uma ideia que desafiou a audiência a repensar o papel da tecnologia na indústria cultural e na formação de narrativas contemporâneas.

Além disso, a interação com a audiência foi particularmente dinâmica, utilizando cards coloridos para envolver os participantes de maneira prática e visual. Os participantes foram convidados a compartilhar suas experiências com IA usando os cards para categorizar suas respostas entre sucessos e falhas da tecnologia. Esse formato estimulou um ambiente de aprendizado interativo, onde os membros da audiência puderam expressar suas opiniões e experiências de maneira engajada, promovendo uma reflexão crítica sobre o uso de IA em uma variedade de contextos. A utilização dos cards coloridos não apenas facilitou a organização da interação, mas também adicionou uma camada visual que ajudou a destacar as diferentes visões sobre as aplicações da IA equilibrando as visões idealistas e céticas sobre seu impacto na sociedade.

SXSW 2025 #16 – Acompanhei a sessão intitulada “AI Beyond Machine Learning: What’s Next/Better? Why? How?”, conduzido por Peter Voss, fundador e CEO da AIGO. O evento, realizado no Hilton Austin Downtown, no Salon C, reuniu profissionais e acadêmicos para discutir os avanços mais recentes no campo da Inteligência Artificial (IA), com ênfase na IA cognitiva e suas implicações para o futuro do desenvolvimento tecnológico. A sessão iniciou com uma análise crítica das limitações dos modelos tradicionais de machine learning. Peter Voss, um dos pioneiros da Inteligência Artificial Geral (AGI), expôs que a IA convencional, caracterizada pela dependência de grandes volumes de dados e considerável poder computacional, não é suficiente para alcançar um nível de inteligência semelhante ao humano. Ele questionou a eficiência dos sistemas atuais ao observar que, enquanto o cérebro humano utiliza apenas 20 watts de energia para aprender de forma incremental, os modelos de IA tradicionais exigem uma quantidade desproporcional de recursos.

Voss apresentou a IA cognitiva como uma alternativa mais eficiente e alinhada com os processos de aprendizagem do cérebro humano. Diferentemente dos modelos de machine learning, que são específicos para tarefas e requerem grandes quantidades de dados para funcionarem, a IA cognitiva aprende de forma contínua e dinâmica, adaptando-se ao ambiente e aos desafios de maneira mais flexível e eficiente. Nesse sentido, ele argumentou que a verdadeira evolução da IA passa por um modelo mais inteligente e humano, capaz de raciocinar em tempo real e evoluir junto ao contexto ao seu redor. Além disso, Voss abordou o impacto potencial dessa abordagem em diversas áreas, incluindo pesquisa médica, gestão de crises e inovações industriais, sugerindo que a IA cognitiva poderia ser uma ferramenta essencial para resolver problemas complexos e globais. Ele também criticou a atual ênfase em modelos de grande escala, como os baseados em redes neurais profundas, defendendo que o futuro da IA deve estar centrado em soluções mais eficientes e adaptativas.

Essa apresentação foi particularmente relevante para minha reflexão acadêmica sobre o futuro da IA, pois desafiou as abordagens convencionais e ofereceu uma nova perspectiva sobre como os sistemas de IA podem evoluir para serem mais inteligentes e úteis. A proposta de Voss sobre a IA cognitiva, com sua capacidade de aprender de forma incremental e adaptar-se dinamicamente ao ambiente, representa um avanço significativo na forma como entendemos e projetamos sistemas de inteligência artificial. De fato, a discussão proposta por Voss lança luz sobre a necessidade de repensar a base teórica e prática da IA, com ênfase na criação de sistemas mais eficientes e alinhados com os processos cognitivos humanos. Sua visão propõe uma mudança de paradigma que pode, de fato, abrir novos caminhos para a pesquisa e a aplicação da IA em áreas críticas, impactando diretamente o desenvolvimento de soluções inovadoras para desafios globais. Essa experiência contribuiu significativamente para ampliar minha compreensão sobre as perspectivas futuras da IA e reforçou a importância de continuar explorando abordagens que priorizem a eficiência e adaptabilidade no desenvolvimento de tecnologias inteligentes.

SXSW 2025 #17 – O domingo encerrou com oportunidade de interagir com Neil Theise, autor de Notes on Complexity: A Scientific Theory of Connection, Consciousness, and Being, e obter uma cópia autografada de seu livro, é uma experiência única no contexto do SXSW. O evento reúne especialistas para discutir inovações nas áreas científica, tecnológica e cultural, e essa é uma chance de dialogar com um autor cujas pesquisas conectam teoria da complexidade, consciência e interconectividade dos sistemas biológicos e sociais. O livro, premiado com o Nautilus Book Award 2024, traz insights sobre temas que impactam a ciência e a filosofia. Obter uma cópia autografada não é apenas uma lembrança do evento, mas também uma oportunidade de se conectar diretamente com uma obra que propõe novas formas de entender o universo e nossa relação com ele.


11 de Março de 2025
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