ARTIGO: O Brasil e a crise global de semicondutores 

Por Susana Kakuta
Diretora da Unidade de Inovação da Unisinos e CEO do Tecnosinos 

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) acelerou a entrada de milhões de pessoas e negócios na era digital. Passamos, efetivamente, a interagir através de computadores, smartfones e tablets na educação, no consumo e nas finanças. O aumento do nível de digitalização impactou a demanda por equipamentos, que pressionam as empresas na produção. Segundo estimativas da Associação Americana de Semicondutores, o mercado mundial de semicondutores foi de US$ 425 bi em 2020, com crescimento previsto de 4,8% até 2025. A crise global atual de escassez de semicondutores é fruto deste boom decorrente da pandemia.

O Brasil, que possui um mercado estimado em US$ 4,5 bi, patina na consolidação de uma indústria com impacto global. Temos poucas empresas produtoras e é delas que sai parte importante do conteúdo nacional dos eletroeletrônicos. No Tecnosinos, através de uma parceria brasileira coreana, fizemos emergir a maior fábrica de encapsulamento e testes de semicondutores da América Latina. Na HT Micron, foi desenvolvido o primeiro SIP para a Internet da Coisas, nacional, que está presente em 25 países.

Esta participação marginal traz dependência de importações e afasta o Brasil deste jogo global da produção de bens de alto valor agregado, com base em tecnologias avançadas de conteúdo nacional. Neste sentido, ter uma política nacional de apoio a indústria de semicondutores é fundamental. Esta é uma indústria estratégica no mundo e não podemos desistir de participar como produtores.

Infelizmente, a situação é crítica neste momento. Estamos prestes a ter o vencimento da política pública que incentiva o surgimento e expansão da indústria nacional de semicondutores. O fim do Padis afetará sobremaneira este setor no Brasil. A prorrogação depende de nova legislação, que precisa ser sancionada ainda este ano. Estamos, em parceria com a indústria nacional, acionando a Câmara e o Senado para que não deixem sucumbir a indústria de semicondutores no país. Não produzir semicondutores é estar na contramão da nova economia, especialmente de avanço da Inteligência Artificial e IoT.


24 de Junho de 2021
Tecnosinos